ODEIO SEGUNDA-FEIRA

Estudo mostra que ganhos no pregão são 0,7% menores no primeiro dia da semana.

Garfield, o gato rabugento das histórias em quadrinhos, tem razão. Pelo menos no que se refere a resultados do mercado financeiro, a segunda-feira é um péssimo dia. E note que a avaliação não está partindo de nenhuma roda de analistas (a maioria pensa assim mesmo) e sim de um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, coordenado pelo professor Marco Antonio Bonomo. A idéia foi tirar a prova o que já é um mito entre os profissionais da Bolsa. Bonomo confirmou numa avaliação estatística dos últimos 15 anos do Ibovespa que os ganhos numa segunda são, em média, 0,7% menores do que nos outros dias da semana. “É uma anomalia difícil de explicar racionalmente”, diz Bonomo. “Talvez o efeito fim-de-semana, quando os debates relacionados ao mercado esfriam um pouco, explique o comportamento.” Portanto, lembre-se disso antes de investir suas economias neste dia.

O estudo também observa que não são apenas sobre as segundas brasileiras que pairam uma nuvem negra. Uma avaliação semelhante feita nos Estados Unidos mostra que também por lá os operadores adorariam pular o primeiro dia útil. Isso mesmo se tratando de um país onde o nível de informação financeira só aumenta no fim-de-semana. Afinal, é no domingo que a maioria das empresas americanas publica informes econômicos e anúncios importantes, como de fusões e aquisições, nos grandes jornais. “Essa história de dia ruim é invenção de americano”, diz Miltom Milione, diretor da Geração Corretora de Valores. “Esses artifícios, geralmente, são usados como tentativa por quem quer manipular o mercado em função de alguma estratégia estabelecida.”

Milione confessa, porém, que já teve péssimas surpresas na abertura do mercado no primeiro dia útil da semana. O diretor da Planner Corretora de Valores, Luiz Antonio Vaz, também já passou por isso. Mas, para ele, existe uma explicação estratégica. “Segunda é o dia dos ajustes”, explica Vaz. “Como o mercado fica parado sábado e domingo, os acontecimentos desses dias só repercutem na Bolsa na segunda-feira.” Um exemplo é o peso das revistas semanais que normalmente chegam às bancas no final de semana. Como ocorreu recentemente, quando as publicações trouxeram à tona a atual crise política.

Pensando mais, digamos, “a longo prazo”, o estudo da Fundação do Rio de Janeiro também buscou uma referência dos resultados por mês. E a conclusão é que outubro é historicamente o pior do ano. “O que é mais fácil de entender por ser, muitas vezes, um período pré-eleitoral”, completa Bonomo. Um levantamento feito pela Souza Barros Corretora de Valores confirma que, nos últimos sete anos, quatro vezes o mês de outubro fechou em queda. Contra, por exemplo, uma vez fevereiro e duas os meses de março, abril e junho.

Claro que isso não quer dizer que alguém deva alterar suas posições de compra e venda de papéis dependendo do dia da semana ou do mês do ano. Até porque ninguém deve investir em Bolsa pensando num curto prazo. “Nem sempre as estatísticas significam uma lógica”, conta Fábio Alperowitch, sócio-diretor da Fama Investimentos. “Prefiro não considerar esse tipo de hipótese.” No entanto, Alperowitch não duvida que a superstição influencie mesmo as atitudes de alguns profissionais do mercado. Ele lembra, inclusive, de uma administradora de fundos que chegou a relacionar o comportamento da Bolsa pelas condições meteorológicas. Nos dias de chuva, havia queda. Nos dias de sol, alta. “Desse jeito, vai chegar um dia em que até o trânsito poderá influir nos índices do mercado”, reclama o cético Alperowitch.
Fonte: terra