sábado, 29 de dezembro de 2007

Hall Maddog diz DRM é demoniaco

"O cachorro louco está mais calmo". A frase é de Jon "Maddog" Hall, presidente da Fundação Linux International e um dos maiores especialistas em software livre do mundo. No dia 30 de novembro, "Maddog" (em português, "cachorro louco") esteve em São Paulo para inaugurar uma sala de ensino de software livre.

Viajando sempre sozinho, Hall dedica a vida a hastear a bandeira do software livre nos quatro cantos do planeta.
Apesar da fala tranqüila e da aparência simpática ("o apelido me foi dado por alunos, mas já não faz jus à minha postura"), Hall critica os softwares de código fechado, chama o Digital Rights Management (DRM) de "demoníaco", fala sobre mobilidade e um projeto para levar a Internet a 85% dos brasileiros. E também elogia o Brasil.


Vantagens do software livre

"Quando quero mostrar as vantagens dos sistemas abertos em palestras, uso os seguintes argumentos: programas proprietários dão problemas para 98% dos usuários que eu pergunto e, se os erros são reportados ao fabricante do software, não há feedback para 97% deles. A verdade é que as empresas simplesmente não conseguem dar suporte a seus clientes. Se uma empresa tem quatro mil funcionários e quatro milhões de licenças, cada funcionário teria de dar suporte a mil problemas todo ano. É humanamente impossível".

Para Hall, "outra desvantagem é requisitar sempre pagamento pelo produto, mesmo que seja só por uma atualização. Em suma, é pagar duas vezes pelo mesmo serviço sem ter a certeza de suporte para versões antigas", finaliza.

Pirataria

"O software livre é mais barato e mais gente usa", afirma Hall. "Quando você escreve o código, ele pode ser aprimorado por todos. O Windows tem cerca de 10 mil patentes criadas pela Microsoft. Alguém já leu todas para saber se está infringindo alguma lei?" questiona.

"Há uma posição falsa sobre a pirataria de programas: eles querem que você use os softwares, mas nem sempre as pessoas podem pagar (ainda mais nos países em desenvolvimento)", avalia Hall. "Proteger a informação e dar segurança ao usuário é bom. Tirar informação é ruim. O modelo de direitos autorais que temos hoje é derivado das idéias do tempo de Gutenberg, no século 15. O DRM é demoníaco".

Linux x Windows

O cachorro louco não economiza munição quando o alvo é o Windows. Em resposta a Bill Gates, que prefere que produtos piratas da Microsoft sejam usados em vez dos softwares livres, Hall pergunta: "Por que em vez de guerrear contra o código aberto, a Microsoft não se aprimora? Uma das vantagens do Linux é a facilidade no suporte. O Ubuntu tem suporte para mais de 200 idiomas. Os programas proprietários são uma anomalia da computação".

"Hoje, o Linux corresponde a apenas 10% do mercado. Mas o Linux é inevitável: 80% dos supercomputadores e um terço dos servidores usam sistemas baseados em Unix (programa em que o Linux se baseia)" explica Hall. "Uma pequena mudança na BIOS aliada ao abandono dos processadores Intel faria com que 96% dos usuários mudassem para o software livre e desistissem do padrão Wintel (junção de Windows e Intel)".

Desafios

"A maior dificuldade em relação ao software livre é a falta de documentação: tanto para programas quanto para aprimoramentos. Eu gosto de fazer essa tarefa, mas a maioria acha chato", responde Hall. "Existe uma inércia em relação ao software livre. As pessoas reclamam da interface, dos aplicativos e da necessidade de usar linhas de comando. Mas se eu resolver esses 10 motivos, as pessoas criarão outros 10. Ou seja, é um trabalho incessante de persuasão e convencimento", sintetiza.

Dicas sobre software livre

"Para quem quer se aprimorar em software livre, dou os seguintes conselhos: consiga expertise —se o cara da loja da esquina não sabe como fazer, ele indicará alguém que saiba— leia bastante sobre Linux; procure grupos de uso de software livre no seu bairro ou na universidade; e não tente aprender tudo sozinho", enumera. "E lembre-se de uma coisa que poucos sabem: os servidores que conectam você à Internet diariamente usam sistemas baseados em Linux".

Política

"A maioria da empresas de software do mundo é americana. Se acontece um incidente entre os dois países quem prestará manutenção desses programas? É uma questão também política", explica. "Sustento minha tese com a seguinte constatação: quais são os quatro países para quem as empresas americanas não vendem software? Síria, Irã, Coréia do Norte e Cuba. Óbvio que há uma conotação política nesse fato".

Brasil

"O Brasil é a estrela ascendente do software livre. Há outros países fazendo bons trabalhos nessa área, como Alemanha, Uruguai e Japão. Mas, sempre digo que o Brasil faz coisas interessantes" elogia. "Contudo, é preciso criar um "ecossistema de software". Não é apenas uma questão de informática. Envolve negócios e a segurança nacional", insinua Hall.

Inclusão digital

Outro projeto que leva a mão de Maddog é a popularização no Brasil de redes Wimax (conexão à Internet de banda larga sem fio e grande quilométrico). "A intenção é fazer o índice de penetração da Internet chegar a 85%. É um projeto para médio prazo, cerca de cinco anos", explica. "O projeto da OLPC (a Fundação One Laptop per Child, de Nicholas Negroponte, celeiro do laptop de US$ 100) tem uma falha. Alguém sabe onde está o servidor Web para esses PCs? Uma empresa chamada Koolu está ajudando a Linux International no projeto sobre o Wimax", afirma Hall.
UOL TECNOLOGIA

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