sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Psytrance sobrevive ao populismo


Nove especialistas, nesta última semana se dispuseram a analisar a cena psytrance pelo mundo. Para surpresa, o gênero que muitas vezes é descrito como “ultrapassado, pop e sucateado” mostra-se cada vez mais forte e, em alguns casos, até nascente. Países como Espanha e Austrália sentem o “boom” do psy há pouco mais de seis meses. Nos vilarejos onde são realizadas as festas, a população comemora a chegada dos festivais devido à tamanha movimentação no comércio local. No entanto, em países berço – tais como Israel, França e Alemanha – o gênero já enfrenta um período de estagnação. Porém, ao contrário da primeira impressão, a fase de mudança é encarada com tranqüilidade por organizadores e produtores. O motivo é que assim como no Brasil, a cena cresceu de forma desenfreada. Centenas de festas com público semelhante ao dos concertos de rock dos anos 80 e queda na qualidade musical. Assim como os outros gêneros musicais, o psytrance está em evolução. Sobreviverão aqueles que conseguirem se adaptar a essa mudança musical e também de comportamento. Para entender melhor toda essa transformação, leia o que dizem os porta-vozes da cena nos países França, Alemanha, Israel, Espanha, Austrália, Japão e, é claro, no Brasil.


França

Por Philippe Dean aka Dj Aden
Organizador, DJ e comentarista do site IsraTrance

“Os organizadores enfrentam hoje um problema de público. Fica complicado investir em um evento sem saber se vai haver retorno. Um grande exemplo foi o fechamento do núcleo Gaia, um dos maiores e mais antigos núcleos trance da França, por falta de retorno financeiro. Artistas como Skazi e Infected Mushroom não podem ser considerados psytrance porque fogem completamente a essência do gênero. Prova disso é que sequer são chamados em eventos grandes, como o Antiworld. Somente nas locais onde a cena engatinha é que eles são considerados. O público psytrance de hoje é bem menor e mais jovem. Para atender a essa demanda os organizadores precisarão se unir e também se profissionalizar ainda mais. Para isso, é mais do que natural uma união entre os gêneros musicais.”


Alemanha

Por Sam Jankowski
Responsável pelo Chaishop.com, portal de cultura trance referência no exterior

“A cena psytrance na Alemanha é muito grande. Temos em média 10 grandes festivais por ano e 20 festas pequenas toda a semana. O auge da cena foi há dez anos mas hoje ela se mantém de forma estável. Nos últimos anos se tornou mais fácil realizar festas trance em clubs devido a estagnação dos outros gêneros. No entanto, eu não acho que artistas como Skazi possam ser denominados psytrance... O Fullon continua sendo o verdadeiro psytrance e o DarkTrance uma espécie de antídoto a tudo isso. As festas pequenas se enquadram nesse estilo, desenvolvendo e acreditando em vertentes fora do circuito mainstream”

O outro lado
Por Liese Hamburg
Editor-chefe da Mushroom Magazine

“O futuro da Alemanha talvez seja a linha progressive. Cada vez mais, eventos que sigam essa linha, tal como o electro, tem feito bastante sucesso. Acredito que os eventos psicodélicos vão continuar, porém, mais restritos ao underground. Temos que ver como serão as festas do verão deste ano. Acho que o futuro é feito com base nas experiências musicais de hoje. Fica difícil prever.”


Brasil

Por André Ismael
Criador e um dos responsáveis pelo Zuvuya.Net

“A cena no Brasil cresce rapidamente, sem nenhuma união entre produtores e formadores de opinião. É a corrida do ouro psicodélico onde qualquer jovem sem estudo ou preparo profissional se torna um produtor de eventos do dia para a noite. A “mensagem- resgate” passado ao público é tão fraca que a cena psytrance virou um palco de palhaçadas e absurdos. No Brasil, com exceção de raros indivíduos, a cena/cultura psytrance não existe. O que existe são jovens da modinha procurando diversão superficial da moda. São menininhas vestindo as mesmas botinhas e sainhas, gatões sem camisa, com peitinho estufado e passinhos de dança ridículos. Graças ao trabalho de raros indivíduos, que eu não preciso citar pois sabem quem são, o verdadeiro psytrance ainda persiste, nas mãos de pessoas que batalham e muito pra manter a chama acesa”

O outro lado
Por Erick Dias
Sócio No Limits, responsável pelas festas XXXperience, Orbital e GrooveAttack

“O Brasil é sem dúvida o maior público psytrance. No entanto, o psy aqui é diferente do ouvido lá fora. Nossa cultura e clima influenciam bastante a cena. O som aqui é mais forte e alegre... Não concordo com a idéia que o psy seja comercial. Se ser comercial é ter vocal e batidas alegres, então Ibiza e Amsterdam – que tem uma cena house bem forte – também são comerciais.”


Israel

Por Space Buddha
Produtor e responsável pela gravadora Agitato Rec

“A popularidade de artistas israelenses tem contribuído para o crescimento da cena no circuito mainstream. O trance faz parte do nosso futuro e eu acho que a evolução disso só tende a melhorar a própria vertente. A nova geração está sendo construída dentro de uma cultura totalmente high tech, que une tecnologia e cultura.”

O outro lado
Por Dj Beto S – BNE/Psyzone

“A nova geração tranceira em Israel é formada basicamente por soldados jovens que estão no exército. Assim como no Brasil, Israel já teve épocas onde todos os finais-de-semana as festas reuniam cinco mil pessoas. Hoje os eventos estão mais filtrados e a tendência e que a cena volte a ter um tamanho “normal”. Com um menor público, porém, com mais qualidade.”


Espanha

Por DJ Ruhl
Co-fundador do Sinergia Collective, atua em realização de eventos, associação de artistas e site de psytrance

“Estamos vivendo o auge da cena agora. Desde o Existence Festival, há seis meses, as festas cresceram uma média de 60%. Estamos tendo um grande cuidado para que a cena se torne uma grande massa vazia. Artistas como Infected Mushroom conseguem sucesso por tornar o psytrance mais popular. Esse público não está acostumado com música eletrônica e de uma certa forma, as mega-apresentações passaram a suprir o vazio deixado pelos concertos de rock. A parte ruim de tudo isso é que a cena passa a ser dividida entre as pessoas que realmente gostam de trance e as outras que estão ali apenas pelo modismo.”


Japão

Por DJ Roger Jordan
Brasileiro que atualmente vive em Tóquio, Japão

“O psytrance hoje seria um divisor de águas dentro da música eletrônica. Não há como negar que foi um ritmo que revolucionou vários países do mundo e trouxe a tona o gosto pela música e o culto à natureza. Electro é uma conseqüência da desaceleração global. Foi uma feliz opção para aqueles que sentiam falta do bom e velho house e não tinham a oportunidade de ouvir as festas caracterizadas pelo psytrance.”

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